Meu primeiro pas-de-deux




Já se vão anos da minha estreia em um ballet de repertório e me lembro como se fosse hoje da emoção que é ter essa responsabilidade pela primeira vez.

Aprendi com minhas professoras que alguns ballets não podem ser dançados sem que a gente esteja devidamente preparada, com a técnica apurada, em forma e muito bem ensaiada. Os clássicos têm que ser respeitados e procuro passar um pouco disso para as minhas alunas. Claro que podemos (e devemos) aprender todo e qualquer ballet em aula. Mas se jogar no palco de Joinville com uma sapatilha no pé requer muito preparo, muita aula, sangue, suor e lágrimas.

Eu fazia muita aula em Assis. Muita mesmo. Todo dia tinha aula das 16h30 no Ballet Isabel Gusman. E essa aula durava uma vida. Fazíamos barra, alongamento, centro e ponta. Aí eu fazia aula da Royal, pois todo ano prestava exames. E depois ensaiava. Um dia, num curso que minha escola promovia no interior, chamado Projeto Joshey Leão, a dona Toshie Kobayashi me viu na aula. Ela nunca tinha botado os olhos em mim. Mas eu estava suando tanto a camisa, que ela virou para minha professora e disse que estava na hora de eu dançar um pas-de-deux.

Acho que fiquei semanas sem dormir direito, pensando em qual seria meu papel, o que iria me ser concedido. E quando viemos a São Paulo fazer mais aulas, ela deu o veredito: La Fille Mal Gardée. Eu conhecia muito pouco o ballet, mas logo fui pesquisar. E imaginem que a gente não tinha o YouTube para poder aprender o ballet. Por isso hoje fui correndo atrás da versão, porque a que dancei não é a mais comum. A coda é exatamente esta, bem rapidinha mesmo, mas adaptada pra mim e pro palco de Assis. Na época foi alguma aluna que me passou os passos e a própria D. Toshie que me ensaiava. Ficou bonitinho. Meu partner, Cleiton Diomkinas, hoje é um bailarino de respeito na Alemanha, e era um príncipe, me ajudou muito. A gente se dava bem e devo muito a todos esses profissionais que me ensinaram tanto.

Na semana passada eu estava contando para uma aluna que na coda do pas-de-deux existem 32 saltinhos na ponta que na primeira vez que ensaiei não saíam nem com reza brava. São uns piquezinhos, algo assim, mas eu me apavorava com aquilo. Mas era um tempo que a gente não podia reclamar. E me esforcei tanto, que eles saíram e até hoje faço com tranquilidade. Queria muito que minhas alunas tivessem essa teimosia que eu tive, pois determinadas eu sei que são.

Fico feliz por ter feito La Fille. Foi uma boa estreia, afinal.

Eu e o Cleiton. Foto de outro pas-de-deux: Festival de Flores a Genzano.


Comentários

Lucienne disse…
Ai que linda!!!! Vou ser teimosa também e esses pulinhos vão sair!!!!! O primeiro corpo de baile de repertório que eu dancei também foi La Fille. Adorei o post! Bjs!
Clarice Cosme disse…
Estava procurando dicas para um pas de deux, e achei a sua história, estou em prantos, não é nenhum ballet de repertório, é uma coreografia, e eu participo de um pas de deux, sou da turma de avançados das oficinas de Caraguatatuba-sp, e estou fazendo uma participação na coreografia dos iniciantes, e tem esse pas de deux, que não sai de geito nenhum, estamos ensaiando a um pouco mais de dois meses e as piruetas não saem, isso que é na meia ponta. Estou super deprimida, às vezes penso que o erro sou eu, ou o bailarino, mas nós ensaios e principalmente no palco, eu preciso tanto dele, e ele não se esforça nenhum pouco, fiz um teste com esse mesmo pas de deux com outro bailarino da minha turma, e deu certo, não sei aonde está o meu erro então, estou criando coragem para dizer a professora que não quero fazer, afinal, está horrível, não consigo manter o eixo, não consigo finalizar a pirueta em cima, e nem ajuda do bailarino eu tenho, estou super mal, chorando a dias, e o medo é grande de magoar a professora, mas como dizem, O MENOS É MAIS.

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